Bálsamo de Tolu

Bálsamo de Tolu

Nome científico: Myroxylon balsamum (L.) Harms Família: Fabaceae

Pertencente à família Fabaceae (ou leguminosas), o Bálsamo de Tolu é conhecido por diversos nomes no Brasil: óleo-de-bálsamo, óleo-pardo, óleo-vermelho, pau-de-bálsamo, quina-quina, sangue-de-gato. Em outros países da América do Sul, é também reconhecido como cedro chino, chirraca, estoraque (Peru), incienso, nabal (México), palo de bálsamo, quina (Argentina), sándalo (Costa Rica), tache, tolú (Colômbia). 

Embora ocorra amplamente na América Central e na América do Sul, no país ela é encontrada apenas no estado do Acre, o que torna sua presença no Parque Zoobotânico do Museu Emílio Goeldi um atrativo. 

As espécies do gênero Myroxylon têm usos medicinais descritos desde o início da civilização, utilizadas no tratamento de feridas e doenças respiratórias. O caule do bálsamo é onde se encontra a maior parte dos constituintes químicos extraídos para a fabricação de pomadas e xaropes.

Atributos

O bálsamo é um dos personagens de uma importante história do povo Machiguenga sobre as origens da biodiversidade. Segundo suas narrativas, quando o mundo era jovem e tudo estava por perto, havia Yavireri, o primeiro xamã e criador de toda a diversidade de plantas e animais que existem. Hirivatike era sua irmã e estava preocupada com a transformação que ele estava fazendo na terra: todas as pessoas estavam se transformando em animais. Ela, com a ajuda de outros cunhados, aprisionou Yavireri. No entanto, o xamã conseguiu escapar e com seu sopro mágico transformou sua irmã em uma árvore de bálsamo. (Shepard, 2003).

 

O povo indígena Yora/Yaminahua no Peru incorpora o cheiro do bálsamo em braceletes usados nos bíceps, como perfumes corporais denominados postameti. (SHEPARD, 1999).

 

Segundo Pereira et. al (2019), o bálsamo é popularmente utilizado para diversos fins: loção para o tratamento de feridas, úlceras e sarna, condicionadores capilares, produtos anticaspa, desodorantes, sabões, cremes, loções, pulverizações e comprimidos para resfriado comum.

No Peru e no Brasil, a espécie cresce em áreas próximas a rios e às vezes cresce em solo laterítico (com alto índice de óxidos de ferro e alumínio). O clima ideal para seu crescimento é o tropical. A floração e frutificação se dão ao longo do ano e fruto é uma vagem de pedúnculo pequeno, pardacenta, tendo de 12 a 13 cm de comprimento. Suas folhas são largas e a altura da árvore pode chegar a 40 metros. A casca é grossa e o tronco de textura rugosa.

 

Muitas espécies da família Fabaceae “são ricas em flavonoides e compostos biossinteticamente relacionados, como o rotenóides e isoflavonoides. Alcaloides, terpenoides e esteroides são exemplos de outras classes de substâncias na qual ocorrem em muitos exemplares da família” (Pereira et al., 2019), que são componentes químicos bioativos, isto é, que agem no metabolismo do organismo humano. 

 

As propriedades químicas e farmacológicas desta espécie especificamente são muito diversas (Pereira et al., 2019) e podem ser listadas resumidamente da seguinte forma: 

 

  • Atividade larvicida contra o mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue. 
  • O extrato etanólico de sua casca apresenta atividades sobre bactérias resistentes, como Staphylococcus aureus (resistente à meticilina) e Pseudomonas aeruginosa. 
  • Potencial antifúngico da resina contra a Malassezia furfur. 
  • O extrato diclorometano e etanolico da casca de M. balsamum pode combater o crescimento de células cancerígenas das seguintes linhagens celulares: melanoma, carcinoma mamário, carcinoma mamário resistente e carcinoma de grande célula, leucemia, adenocarcinoma ovariano, prostático, colorretal e de células renais.


Além dos usos para fins medicinais, Myroxylon balsamum é também uma espécie conhecida por sua madeira vermelha, que é explorada na construção civil para vigamentos, portas, janelas, assim como para móveis decorativos e de luxo também.

O Bálsamo de Tolu compõe a floresta sensível principalmente pelo seu atributo de odor. Essa característica está presente, inclusive, em seu nome: myron em grego significa perfume e xylon, madeira. Um dos compostos orgânicos responsáveis por isso é a vanilina, que tem um efeito sob o sistema nervoso central humano parecido com o de nossos feromônios. “Quase todas as plantas que contêm vanilina são tradicionalmente consideradas afrodisíacos” (Ratsch, 2005). 

O cheiro agradável de seu óleo balsâmico tem registros antigos: em 1574, Monardes descreve populações ameríndias coletando bálsamo, exportado principalmente para a Europa, pois os espanhóis consideravam que sua qualidade era tão boa quanto do Bálsamo de Meca, utilizado em cerimônias religiosas. 

Balsam of Tolu. In: Encyclopedia of Life. Disponível em:  https://eol.org/pages/702850 

 

CAVALCANTE, Paulo. Guia Botânico do Museu Goeldi. 3ª edição. Belém, 2006. 

 

Informações sobre madeiras. In: Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Disponível em: http://www.ipt.br/informacoes_madeiras3.php?madeira=20

 

Myroxylon balsamum in Ficha de Espécies do Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Disponível em: <https://ferramentas.sibbr.gov.br/ficha/bin/view/especie/myroxylon_balsamum>. Acesso em 02-08-2021 

 

Pereira, R., Souza, E.B., Fontenelle, R.O.S., Vasconcelos, M.A., Santos, H.S. & Teixeira, E.H. 2019. Diversidade estrutural e potencial biológico dos metabólitos secundários de espécies do gênero Myroxylon L.f. (Fabaceae): uma revisão da literatura. Hoehnea 46: e582017. http://dx.doi.org/10.1590/2236-8906-58/2017

 

RASTCH, C. The encyclopedia of psychoactive plants: Etnopharmacology and its applications. Park Street Press. 2005. 

 

Sartori, Â.L.B., Lewis, G.P., de Freitas Mansano, V. et al. A revision of the genus Myroxylon (Leguminosae: Papilionoideae). Kew Bull 70, 48 (2015). https://doi.org/10.1007/s12225-015-9604-7 

 

SHEPARD, Glenn. Pharmacognosy and the senses in two Amazonian societies.  Tese apresentada à University of California, Berkeley. 1999. Disponível em:  https://repositorio.museu-goeldi.br/handle/mgoeldi/1213

 

SHEPARD, Glenn.  Shamanes y la ambiguedad del bien y el mal en la mitología Matsiguenka. in: Los Pueblos Indígenas de Madre de Dios: Historia, Etnografía y Coyuntura. B. Huertas & A. Garcia (Eds.). Lima: International Working Group on Indigenous Affairs (IWGIA), 243-257. 2003. Disponível em: https://www.academia.edu/22609419/Shamanes_y_la_ambig%C3%BCedad_entre_el_bien_y_el_mal_entre_los_Matsiguenka

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